Blogagem Coletiva: Anti-tabagismo

 

 

 

 

por Cris Passinato   

31/05/2008

Há uns 2 anos atrás, eu estive numa liderança voluntária em uma Ação junto com o RIOVOLUNTÁRIO e Instituto Aqualung no Dia Internacional da Limpeza das Praias, e lá tive 2 bons resultados, que não foram exatamente a ação que foi realmente uma farsa, ao meu ver:

1) Conheci os plásticos oxibiodegradáveis que me trouxeram um grande campo pra estudá-lo e vir a debater em forma de trabalhos científicos e acadêmicos que estou tentando iniciar, mas já avancei em alguns passos e

2) Conhecer alguns contatos excelentes, dentre eles o Dr. Alexandre Milagres que é um médico e idealizador de um forte projeto anti-tabagismo. O seu site é muito rico e lembrei-me de sua disposição sempre de nos ajudar no que diz sentido a campanhas, divulgações da literatura que ele produz on line e muito mais, por isso solicitei a ele que me concedesse uma pequena entrevista e ele, gentilmente aceitou, assim pude enviar em tempo um e-mail com algumas questões que abaixo seguem com as suas respectivas respostas:

Entrevista: Anti-tabagismo

Olá Dr Alexandre, estou dentro de um movimento denominado Blogagem Coletiva e gostaria que respondesse ao site Pesquisas de Química algumas questões, e abaixo seguirão enunciadas:

PQ: O que vem a ser e como nasceu o seu projeto de prevenção do Tabagismo?

AM: Comecei a estudar tabagismo em 1976, após assistir uma conferência sobre o tema proferida por Mário Rigatto, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, num congresso de Pneumologia. A sua paixão pelo tema me arrebatou.
Ainda acadêmico de medicina e já com tendência a tornar-me pneumologista, passei a verificar como o tabaco estava relacionado a boa parte das doenças que eu começava a estudar. Mais tarde, aprofundando-me no assunto, foi ficando claro que o controle da epidemia passava por duas ações igualmente importantes: ajudar o fumante a conscientizar-se da necessidade de abandonar o tabaco e o jovem a não entrar na senda da dependência em nicotina.

PQ: O livro que escreveu está todo disponível no site? Do que trata?

AM: Em 1994, ouvimos dois grupos de estudantes, da Escola Municipal Silveira Sampaio e do Colégio Andrews. Junto com a pesquisa que realizamos com eles, sobre a presença do tabagismo em suas casas, os instigamos a colocarem as suas dúvidas sobre o assunto. Os seus questionamentos serviram de roteiro para a elaboração do livro que, por opção nossa, em 1996, acabou sendo integral e gratuitamente disponibilizado na rede mundial de computadores,  transformando-se no primeiro livro eletrônico brasileiro (e-book). O “Fumar Pra Quê, Meninas e Meninos?” está disponível em www.cigarro.med.br . Dele, me chegam em média 80 a 100 mensagens diárias de apoio, indagativas ou sugestivas.

PQ: Quais os males que o fumo causa à Natureza, ao Meio Ambiente?

AM: Para cada hectare de fumo plantado 1 hectare de floresta é destruído. Um quarto das florestas dos EUA queimaram em incêndios provocados por guimbas de cigarros acesas.  O uso intenso de agrotóxicos nas lavouras de tabaco tem alterado a composição de solos e contaminado gravemente famílias inteiras de produtores.

PQ: Parece óbvio, mas sabemos que cada dia mais adeptos e jovens das mais variadas castas sociais e econômicas fumam, então o senhor teria como nos elucidar quais os males principais que o fumo poderia acarretar às pessoas?

AM: A fumaça do tabaco, em especial aquela produzida pela queima de cigarros, contém mais de 6 mil substâncias tóxicas, superando por larga margem, qualquer outra forma de poluição ambiental que afete a nossa espécie.
Estas substâncias exercem diversos papéis maléficos para o organismo humano ou os de animais domésticos expostos.  Inicialmente, observamos alterações nas funções de células, tecidos e sistemas orgânicos. Posteriormente, esta agressão começa a prejudicar os mecanismos de defesa naturais, tais como os cílios brônquicos, que evitam que os micróbios normalmente aspirados em cada movimento respiratório se desenvolvam no interior dos pulmões.
As principais doenças ligadas ao tabagismo são, em número de afetados, as vasculares: infarto agudo do músculo cardíaco, acidentes ‘derrames’ vasculares cerebrais, doenças arteriais difusas e aneurismas.
Um outro grupo de doenças com marcada participação do tabaco são as chamadas neoplasias malignas ou cânceres. São 16 tipos de cânceres diferentes, que originam-se em tecidos ou órgãos diferentes. Sejam naqueles em que a fumaça trafega diretamente, como os de cavidade oral e brônquios, sejam em sítios distantes como a bexiga ou o colo de útero.
A quarta causa de mortes no mundo (a quinta no Brasil) é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica _ DPOC, que engloba o Enfisema Pulmonar e a Bronquite Crônica,  mal diretamente ligado aos efeitos inflamatórios do fumo sobre a mucosa respiratória e os alvéolos pulmonares.
Além disto, justificando a eleição da Organização Mundial da Saúde que colocou o tabagismo como a principal causa de mortes e doenças evitáveis no mundo, as substâncias produzidas pelo tabagismo geram inúmeras outras alterações, tais como aumentando a propensão às infecções, alterando de diversas maneiras a reprodução humana _ infertilidade, abortamento espontâneo, nascimentos de bebês de baixo peso, desmame precoce e morte súbita do bebê, etc. O uso de tabaco desencadeia ou desfavorece a evolução de diversas outras doenças de alta prevalência no planeta, tais como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia (colesterol e/ou triglicerídeos elevados), asma brônquica, gastrite, rino-sinusite, aids, tuberculose, pneumonia, entre outras.

PQ: Existem estudos e estatísticas e o senhor poderia nos referenciar ou enunciá-las, de quais as doenças ligadas ao tabagismo e quantas pessoas têm morrido por conta dessas doenças?

AM: Atualmente, são 5 milhões e quatrocentas mil mortes anuais. Dentro de 20 anos, se não agirmos logo e intensamente, estima-se que a mortalidade anual alcance 10 milhões. Com o agravante de que 70% destes óbitos ocorrerão em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, aqueles mesmos que já encontram dificuldades importantes para lidar com o quadro atual de suas mazelas sanitárias. Calcula-se que para cada morte tabaco-relacionada existam 40 casos de pacientes com doença grave gerada por esta mesma causa. No Brasil, temos 200 mil mortes anuais, o que significa 550 mortes por dia. Um dado aterrador, tratando-se, o Tabagismo, de uma doença evitável.

PQ: O senhor poderia deixar-nos uma mensagem ou algum texto à cerca do assunto para que possamos ter como base de trabalho nessa atividade dessa Blogagem Coletiva?

AM: O movimento contra o fumo no Brasil tem uma representatividade grande junto às autoridades sanitárias mundiais. A legislação brasileira é bastante avançada no que tange ao tabagismo. Alcançamos vitórias em vários aspectos, sobretudo, na redução no número de usuários, com uma queda de 36 para 23 milhões em pouco mais de 20 anos. Não temos mais publicidade de cigarros e demais produtos fumígenos, exceto em pontos de venda. Impusemos às indústrias a obrigatoriedade da exposição de imagens que retratam parte do flagelo vivido pela espécie, o que comprovadamente tem contribuído para a decisão de abandonar ou não aderir ao fumo. Entretanto, a luta ainda está aí para continuar a ser enfrentada. Estamos longe de termos a epidemia sob controle. As escolas e as lideranças estudantis ainda não estão suficientemente sensibilizadas pelo tema. O que pode ser visto quando se levanta o número de professores com doenças tabaco-relacionadas ou o número de crianças adolescentes que ainda aderem à nicotina em nosso país. Pesquisas recentíssimas apontam para o risco de que apenas cigarro pode desencadear uma avalanche de alterações cerebrais que culminem pela drogadicção nicotínica pelo resto da vida. Nos EUA, outro país com tradição de combate ao fumo, onde morrem 1.200 pessoas por dia pelo fumo, 3.000 adolescentes ainda começam a fumar a cada dia. A legislação que proibiu o fumo dentro das escolas, além do óbvio ganho que proporcionou, teve o inconveniente de mascarar o problema. A maioria das escolas do país, públicas ou privadas, ainda não avalia o impacto do tabagismo entre os seus alunos e mestres, não considerando-o um problema a ser trabalhado, parecendo desconhecer que a Organização Mundial da Saúde e nós, especialistas na doença, denominamos o Tabagismo como um mal pediátrico, face à adesão dar-se em 90% antes dos 19 anos de idade.

PQ: Quero terminar agradecendo pela sua disponibilidade em nos responder e desde já mostrar nossa grande parceria através do link em nosso site, porém gostaria de solicitar, pois eu tenho e o link está no Blogroll do portal, porém o internauta, aluno, pesquisador não o tem, qual seria o endereço do site e o que ele nos oferece de mais importante em informação contra o tabagismo?

AM: http://www.cigarro.med.br