Capítulo 28

E POR FALAR EM LÍVIA E THIAGO, NA GRAVIDEZ...

(e atenção para o vírus da AIDS, hein?)


Alain Le Quernec

 

 O Bebê não gosta de fumar

Campanha de informação sobre os perigos do tabagismo para a criança a nascer


Revista Caras, maio de 1997.

A musa e atriz, Maitê Proença, declara: "Parei de fumar e de beber e quero ter mais filhos". Sábias palavras...

Tobacco Control

Spence & Herschberger, Texas, EUA.

Vocês, futuros papais e mamães, devem saber o quanto ser dependente de nicotina pode ser prejudicial para uma gravidez.

Começa com o lance dos espermatozóides capengas que já nos referimos antes, passa pela maior possibilidade de acontecer algo chamado gravidez tubárea, que nada mais é do que o óvulo da mamãe se juntar ao espermatozóide (a sementinha que o papai coloca na mamãe, para fazer nenê), na trompa (tubo) de Falópio, e não no útero. Este tipo de situação, além de impedir a gravidez, pode levar a mãe à morte. Os óvulos e os espermatozóides movimentam-se por intermédio de cílios, como se estes fossem as suas nadadeiras. Tanto pode acontecer dos espermatozóides capengas terem dificuldade de chegar ao óvulo dentro do útero o que impede a gestação, quanto o óvulo ter dificuldade de sair do ovário e chegar ao útero, fecundando-se com o SPTZ ainda no meio do caminho, na trompa (são os famosos "rodas presas").

Como também já vimos, a futura mãe quando fumante, ou mesmo quando ela apenas vive cercada de fumantes durante a gravidez, entre outros riscos, vai gerar um bebê mais burro que os outros (sim, porque como também já comentamos, os seres humanos usam pouquíssimo da sua capacidade mental, algo em torno de 5 a 6 %. Entre nós, é considerado gênio quem chega a aproveitar uns 8 %. É muito gozado ver alguém metido a besta, se achar o rei da cocada preta, só por se sentir mais inteligente ou mais esperto do que outro). Será que esta menor inteligência também contribuirá para aquele bebê, depois de grande, tornar-se um fumante? Além da burrice, a fumaça do cigarro leva os bebês a nascerem menores e com peso abaixo do possível. Teoricamente, só sendo mesmo meio tapados, poderíamos nos deixar influenciar por propagandas. Como os empresários das indústrias de cigarros não deixam de gastar milhões de dólares em anúncios todos os anos, deve ser porque sabem que nos deixamos influenciar por eles.

Campanha do Ministério da Saúde

Também está comprovado que o número de abortos e de partos prematuros (crianças que nascem antes do tempo normal, que é de nove meses) em fumantes é significativamente maior do que nas gestações de casais que não fumam. E o baixo peso é a principal causa de mortes entre crianças.

Campanha Australiana

Você consegue pensar numa razão melhor para abandonar o fumo?

 Há estudos suficientes para constatar-se que a quantidade de gestações que não se completam devidamente é tanto maior quanto maior for a exposição à fumaça do cigarro.

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Tabaco - importante fator de risco para abortos espontâneos

Um estudo recentemente publicado, feito por um grupo de pesquisadores belgas, de Bruxelas, sugerem que os filhos nascidos de mães que fumaram durante a gestação, devam ser considerados ex-fumantes. A dosagem de cotinina (forma como se chama o derivado da nicotina ao ser eliminada pelos rins) na urina dos bebês revelou 550 nanogramas/mg, enquanto que na urina das mães havia 580 nanogramas/mg, isto é , praticamente a mesma quantidade. Muito choro de criança recém-nascida, filha de mãe fumante ativa ou involuntária, não é nem de fome e nem de necessidade de contato, mas sim, síndrome de abstinência nicotínica nenezal.

As vezes, um bebê chora pedindo o cigarrinho, que durante nove meses lhe era dado, via cordão umbilical, pelo sangue da mamãe.

Tobaccocontrol

Mark Knight, Melbourne, Austrália

Uma teoria nova, a TEORIA DE BAKER (do epidemiologista David Baker), observa que existe uma relação entre o peso de um bebê ao nascer e o surgimento de doenças cardíacas e cerebrais na idade adulta. Parece que, quando um feto recebe pouco oxigênio, ele sacrifica o seu próprio crescimento e gera alterações importantes nas funções do coração e cérebro. Portanto, ter um filho nascido com baixo peso, apenas por causa da fumaça de cigarros, é algo que deva ser evitado a qualquer custo. Todo o sacrifício que puder ser feito pelo casal vale à pena, para o futuro saudável da cria.

As complicações, no pós-parto e nos primeiros anos de vida dos bebês filhos de fumantes, também são muito mais comuns do que em filhos de não fumantes.

 
Fumando por dois, e mentindo sobre isto

Artigo diz que muitas grávidas mentem aos seus obstetras quando o assunto é fumo

Por outro lado, não existe momento mais especial para alguém abandonar o fumo quanto o da gravidez. Todo esforço deve ser feito no sentido de ajudar a mamãe a abandoná-lo durante a gestação, e a não recair no tabagismo depois do parto. Infelizmente, não existe fator de risco mais forte para essa recaída do que os parceiros fumantes. Portanto, se o pai da criança é fumante e deseja contribuir para que seu filho tenha mais chance de nascer (e, de nascer mais saudável), deve também tentar largar o fazedor de defunto junto com a futura mãe.

Agora, vamos imaginar que uma mulher, que não esteja querendo ter filhos naquele momento, use algum método para evitar a gravidez. Se o método escolhido foi o de não ter relações sexuais, vá lá que seja. Se foi o DIU (dispositivo intra-uterino), o diafragma ou a tabelinha idem. Porém, se escolheu a chamada pílula anticoncepcional, aí o melhor é nem pensar em fumar. Todas as pessoas, homens e mulheres, podem sofrer um infarto do coração ou um derrame cerebral. Se forem fumantes estas chances aumentam muito, porém, se usam "pílula", esta possibilidade cresce, no mínimo, em dez vezes.

Hoje em dia, a associação PÍLULA ANTICONCEPCIONAL - FUMO, é considerada um dos maiores absurdos do mundo.

Saindo um pouquinho da matéria tabagismo, como está a educação sexual de vocês ? Procurem se informar a respeito, na medida do possível, e sem pudores. Exijam isto em sua escola. Há uma porção de trabalhos que mostram meninas grávidas que nem sequer sabiam o que era um útero ou um ovário. Conversem sobre isto abertamente com os "dinossauros". Vocês por acaso sabem que, no Brasil, são feitos quase 5 milhões de abortos por ano? E, que por causa destes, morrem quase 500 mil brasileiras por ano? Este número de mortes, é maior do que em muitas grandes guerras. Não podia deixar de aproveitar estes momentos em que tenho a oportunidade de falar com vocês, adolescentes, sobre isto. Vejam mais esse dado: No Brasil, A MAIOR CAUSA DE INTERNAÇÃO DE MENINAS, ENTRE 10 E 14 ANOS, É O PARTO. Eu disse: meninas entre dez e catorze anos !!!!!!!

Na minha cidade, Rio de Janeiro, em 2000, dentre 103.000 nascidos vivos, 927 bebês eram de mamães que tinham entre 10 e 14 anos. Segundo dados do Sinasc, 19% dos partos realizados na cidade foram de mamães que tinham entre 15 e 19 anos e 0.9% entre 10 e 14 aninhos de idade. Na Maternidade Leila Diniz, que faz parte do complexo hospitalar em que trabalho, a situação é ainda mais grave, pois, no mesmo ano de 2000, 24% dos partos eram de meninas entre 15 e 19 anos e, 1,5% entre 10 e 14 anos. Se gravidez houve, significa que a proteção contra DST-AIDS passou longe...

Parto lidera ranking de internações de jovens, Cláudia Collucci, Folha de São Paulo, 24/jun/2003

Gravidez cresce entre adolescentes da elite, Antônio Góis, Folha de São Paulo, 27/set/2004

Gravidez tira da escola 25% das adolescentes, Letícia Lins, O Globo, 7/mar/2005

Gravidez precoce é preocupação para governo brasileiro, Demétrio Weber, O Globo, 22/mai/05

O ponto é fazer crianças e adolescentes saberem dos riscos, entrevista com Samantha Guy, diretora de ONG Internacional, O Globo, 22/mai/05

A gravidez na infância _ a fecundidade em mães até 19 anos é a única que cresce, matéria de Daniela Darano e Élcio Braga, Jornal O Dia, 26/mar/07,  No Jacarezinho, 1 grávida em cada 5.

infográfico O Dia, 26/03/07

Há regiões na cidade do Rio de Janeiro, onde 20% das adolescentes entre 15 e 19 anos estão grávidas

fotos de Hans von Manteuffel, Jornal O Globo

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Jovens mães fora da escola

Vocês tem todo o direito à informação sobre estes assuntos, cobrem de seus pais e de seus professores. Este direito está, inclusive, na própria Constituição Brasileira, direito à saúde e à educação. Sem essa de ser o que não se é, sem essa de se envergonhar de falar em sexo ou, só falar sobre sexo com quem sabe tanto sobre sexo quanto vocês. O número de meninas grávidas, por exemplo, com doze anos, está cada vez maior, por puro desconhecimento de tudo. No Brasil, entre 2001 e 2003, segundo a Unesco, 82.834 bebês nasceram de mães que tinham apenas entre 10 e 14 anos. Se os seus professores ou pais, são Tiranossauros Rex, procurem sozinhos, um médico num centro de saúde que ele poderá ajudar. Nos centros de saúde das prefeituras de suas cidades, as consultas são gratuitas. Se ninguém quiser, ou souber, dar-lhes orientação, falem com o diretor da unidade, ele que se vire. Alguém tem a obrigação de orientar vocês. Isto serve tanto para os meninos quanto para as meninas, podem crer. Reúnam um grupo, quem sabe não será mais fácil ? Proponham isto também à diretora das suas escolas.

A decisão sobre a oportunidade da primeira relação sexual é algo bastante contraditório. Vocês recebem pressões de todos os lados para terem logo a primeira relação e para não terem logo a primeira relação. Felizmente, já passei da época em que vivi esse conflito, entretanto, sem entrar em maiores detalhes, posso garantir-lhes que não foi nada fácil viver este período.

Algumas coisas, sobre a gravidez, podemos garantir: 'fazer xixi, depois de uma relação sexual não evita gravidez'. Não adianta tomar um balde d'água antes, para fazer bastante xixi depois. Lavar a "popoca" no bidê também não! Se eu estou brincando ? Uma pesquisa feita na Bahia, pelas psicólogas Márcia Lacerda e Kátia Queiróz, com 800 adolescentes grávidas (entre 12 e 17 anos de idade), mostrou que as meninas não sabiam sequer o que era uma menstruação. A pesquisa também revelou que 80 % das meninas haviam tentado um ou mais abortos. Muitas mães tinham vergonha de conversar até sobre a menstruação com elas. Pela dificuldade que encontram em tocar no assunto, muitos pais de classe média e alta se contentam em dar um livro sobre o tema, sendo que pais de classe econômica mais baixa nem mesmo isto tinham condição de fazer.

Uma das idéias erradas mais comuns, entre as meninas, é a de que a primeira relação sexual não engravida.

Registro agora a existência de uma pesquisa realizada recentemente pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, coordenada pela médica Albertina Takiuti, aonde além da eventual ignorância de adolescentes nesta matéria, havia um grande número deles muito bem informado e, aonde o problema da gravidez precoce se deu por outras razões, entre elas: a baixa auto-estima, o medo de perder o namorado e, mesmo até, o medo de prestar o vestibular, se tornaram responsáveis pela gravidez "fora de hora".

foto de Simone Marinho, O Globo, 28/mar/2004

 

Adolescentes grávidas

Portanto, que vocês também tenham claro, não bastar estar informados, é importante acreditar em si próprios, confiar no seus tacos (como diziam os antigos jogadores de sinuca). Muitas garotas se vêem obrigadas a transar sem camisinha apenas pelo receio de que seus namorados as troquem por outra. Muitas chegam mesmo a ter a própria iniciação sexual por este motivo.

foto de Gustavo Azeredo,Jornal Extra, 6/abr/06

Nos dias atuais, é importante lembrar que, pela mesma via que desce o espermatozóide que engravida, poderá vir também o vírus da AIDS.

Saiba mais sobre AIDS

Aproveitem para atentar para o presente que Bell Kranz (ex-editora do Folha Equilíbrio, e à época, editora do caderno de adolescentes da Folha de São Paulo_ Folhateen), deu para a galera, em sua edição de 27/09/99:

"AS ARMADILHAS ANTI-CAMISINHA"

- ficar com vergonha de pedir ao parceiro para colocar a camisinha,

- ter vergonha de andar com a camisinha na bolsa e ser chamada de galinha,

- transar, às escondidas, em lugares como praia, rua, carro, onde o preservativo pode não estar à mão,

- beber ou usar qualquer outro tipo de droga antes de transar,

- não saber a maneira certa de colocar o preservativo,

- abrir a embalagem da camisinha com a boca e danificar o produto,

- deixar de usar o preservativo porque confia no parceiro(a),

- evitar andar com camisinha por medo de os pais encontrá-la em suas coisas,

- não comprar preservativo por vergonha de entrar na farmácia,

- acreditar que o homem não pega o vírus HIV da mulher,

- acreditar que transar uma única vez sem proteção não irá fazer mal,

- evitar a penetração, mas fazer sexo oral sem proteção,

- esperar que o parceiro tome a atitude de colocar a camisinha,

- ter vergonha e evitar falar em AIDS e proteção, com o parceiro(a) e,

- abandonar a camisinha quando o namoro fica sério.

Na mesma matéria sobre HIV, do Folhateen, há um depoimento de uma moça, de 25 anos, que relata como se contaminou com o vírus:

"Eu era muito bem informada sobre a doença. Fui contaminada porque achava que nunca iria acontecer comigo".

No início do século XXI, o Ministério da Saúde brasileiro estima que existam 600 mil pessoas infectadas pelo HIV no país, sendo que 400 mil delas ainda não sabem que portam o vírus.

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United Nations Programme on HIV / AIDS

Os números da AIDS no mundo não são nada bons. Em alguns lugares da África, a maior causa de falta ao trabalho e à escola é o comparecimento a enterros:

            No Mundo:

  • é o país com o maior número de pessoas infectadas por HIV/Aids do mundo: cerca de 5 milhões
  • 1 em cada 5 adultos está infectado pelo vírus HIV
  • em 12 anos, a porcentagem de população com o vírus passou de menos de 1% a mais de 20%

No Brasil:

Ano Taxa de infecção distribuída por gênero no Brasil Taxa de infecção distribuída por gênero no Brasil
1985 26,5 homens 1 mulher
2005 1,5 homem 1 mulher

 

Ano   Infecção em  homens heterossexuais no Brasil, em relação ao total de homens infectados no País
1996 22,5%
2005 44,2%

 


Trecho da entrevista de Joel Gallant, diretor da Clínica de HIV da Universidade John Hopkins à Roberta Jansen, O Globo, 07/nov/2003:

- O Globo: Especialistas da Organização Mundial da saúde afirmam que estamos perdendo a luta contra a doença. O senhor concorda?

- Dr. Gallant: Concordo, especialmente em relação à África e Ásia, onde há pouca prevenção. Mas também, começamos a ver em países desenvolvidos um aumento da epidemia. As pessoas parecem não estar mais preocupadas, estão se arriscando mais. Isso muda o padrão epidemiológico da doença, que começa a atingir mais usuários de drogas, marginalizados em geral, mais avessos à terapia.


O que acontece com a AIDS, ocorre com o tabagismo. Não basta saber sobre os mecanismos do vício, assim como não basta saber como evitar o vírus. Muitos fumantes entrevistados em minha clínica, apontam o início do tabagismo causado por uma necessidade de ser igual ao resto do grupo. Esta coisa tribal é super importante nesta fase da evolução de vocês, porém, tem seus riscos, como tudo nesta vida. Um dos riscos surge quando, com o intuito de ser aceito(a), logo, pela tribo, adota-se, sem pestanejar, as regras que estão impostas por este grupo. Quanto maior for a sua auto-estima, melhor você poderá avaliar os caminhos novos que lhe estão sendo abertos. Por outro lado, tenho relatos de meninos que começaram a fumar menos de um mês depois de mudar de escola, podendo caracterizar uma necessidade de aceitação imediata pelo novo grupo, onde a maioria fumava, ou o desfrutar de uma nova condição de 'liberdade'. Na maioria destas escolas, nenhum trabalho de prevenção ao tabagismo era realizado.

Não inalar uma fumaça que contém milhares de substâncias tóxicas é uma imensa prova de auto-estima, de querer-se muito bem (apesar dos prováveis defeitos que possamos, ou julguemos, ter).

A União Européia criou uma movimento super interessante para ajudar os adolescentes a não serem sacaneados pela indústria do tabaco: FEEL FREE TO SAY NO _ SINTA-SE LIVRE PARA DIZER NÃO. Os jovens tomavam conhecimento das estratégias da indústria para pegar novos adeptos e eram estimulados a serem livres e a não tomarem decisões impostas pelos interesses destas corporações. Esta campanha encerrou-se no final de 2004.

Se vocês continuarem seguindo a trilha de seus irmãos mais velhos, pais, avós e bisavós, continuaremos a fazer piadinhas sobre as mortes que o cigarro provoca (5 milhões por ano em 2003 e 10 milhões por ano em 2020):

 

"Bem-vindo ao mundo de Marlboro" _  Seria cômico, se não fosse tão trágico.


CONHECE-TE A TI MESMO E CONHECERÁS O UNIVERSO

(Estava escrito no portal do Templo de Delphos).


Editoria de Arte, InfoGlobo, 22/11/2005:

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