Capítulo 12

QUANDO HOMENS E MULHERES COMEÇARAM A FUMAR ?


Homens e mulheres começaram a fumar cigarros em épocas bem distintas, porém, com algo em comum : as duas grandes guerras mundiais.

Diz a lenda, que o cigarro foi definitivamente apresentado ao homem, sendo jogado de aviões para dentro das trincheiras de batalha. A primeira grande guerra foi uma guerra de trincheira, bem diferente da segunda e o que se dirá da última, que assistimos em casa, pela TV, com todos os efeitos visuais possíveis, com tudo computadorizado. Na primeira guerra, soldados permaneciam por longo tempo entrincheirados e, para diminuir o tédio e relaxar a tropa, comandantes enviavam pacotes de cigarros para eles. Como vocês sabem, esta guerra deu-se entre 1914 e 1918. Ao término da batalha, a nicotina dos cigarros já passara a ser uma companheira dos homens e não apenas daqueles que eram soldados. Sem sombra de dúvida, os problemas de saúde eram bem menos presentes quando só existiam as outras formas de consumo de tabaco (charutos, cachimbos, rapés, fumos de rolo, etc).

Este gráfico mostra a incidência do tabagismo entre os pais dos 123 alunos do Colégio Andrews. Estatísticamente, pode-se dizer que a metade dos pais dos alunos entre 12 e 17 anos são fumantes.

Este segundo gráfico mostra uma menor prevalência de pais fumantes na Escola Municipal Silveira Sampaio que, porém, constatamos ser também bastante alta. Responderam ao questionário 169 alunos (em 1994), entre 11 e 17 anos. 37 % dos pais da Silveira Sampaio são fumantes.

 

Se é bom o bastante para a mãe, v. sabe que é bom para as crianças...

O fumar era um ato eminentemente masculino, impenetrável para as mulheres. E, a discriminação era discriminação. Até a constituição de 1934, de Getúlio Vargas, com quase cinquenta anos de República, as mulheres nunca haviam votado no Brasil.

Clássico da pintura A Meretriz e o fadista

Após a segunda guerra mundial, por motivos que não posso precisar, no ocidente, passou-se a "permitir" o fumo entre as mulheres. Até então, uma mulher fumante era muito mal vista pela sociedade. Só fumavam as prostitutas e as atrizes (que para a moral da época, eram mais ou menos a mesma coisa). Nos países asiáticos e de cultura árabes, a mulher ainda fuma menos do que as ocidentais. Porém, vêm diminuindo esta diferença a cada dia.

No início da década de 50, a publicidade paga pela indústria do tabaco ajudou a empurrar as mulheres para a dependência em nicotina

Rita Hayworth

Rita Hayworth, em Gilda (1946)

Rita Hayworth coloca charme no tabagismo. Percebam como o uso do cigarro era todo ensaiado, junto com a forma de segurar o casaco de pele, um vestido longo tomara-que-caia com brilho e a cabecinha caidinha. Muita mulher esperta caiu nesta... Naquela época, a imagem daquela produção era tudo de bom. Garanto a vocês que estes ensaios todos, além de uma boa cena, queriam era vender cigarros para o público feminino que engatinhava no vício.

Para Rita Hayworth, a 'mulher fatal', chamada de Grande Deusa Americana do Amor e favorita dos militares americanos que estavam no front de batalha da segunda guerra mundial, o charme dera tão certo que ela tornou-se, inclusive, garota propaganda dos cigarros Chesterfield: Todos os meus amigos sabem que Chesterfield é a minha marca(1) Rita Hayworth morreu do Mal de Alzheimer que começou a dar sinais quando ela ainda tinha apenas 42 anos (2).

Audrey Hepburn

Audrey Hepburn in Breakfast at Tiffany's

 

Audrey Hepburn, em Bonequinha de Luxo (1961)

O personagem da Audrey Hepburn motivou multidões de mulheres a fumarem. A sua inseparável piteira causava sensação... Só para vocês terem idéia do que significou esta produção com a atriz, de como causou impacto em nosso inconsciente coletivo, em 2006 (45 anos depois do lançamento do filme), este vestidinho preto básico (de Givenchy) foi leiloado por uma fortuna (aproximadamente 70 mil libras esterlinas), para ajudar pessoas desprotegidas na Índia (3). A indústria do tabaco ganhou milhões com esta associação cinema-propaganda, sobretudo pelo incentivo para as mulheres aderirem ao vício masculino. Audrey Hepburn, aos 63 anos, faleceu por câncer de cólon, doença tabaco-relacionada.

Infelizmente, este início tardio apenas explica porque o câncer de pulmão só tem aparecido nas mulheres, em quantidade significativa, depois da década de 70. Até esta década, era raríssimo fazer um diagnóstico destes em mulher. Entre estas, preponderava o câncer de mama e de útero; o câncer de pulmão raramente era encontrado. Enquanto isto, entre os homens, o câncer de pulmão há várias décadas liderava as estatísticas. Hoje em dia, quando as mulheres já fumam tanto quanto os homens, o câncer de pulmão começa em alguns centros mais desenvolvidos (aonde a mulher "conquistou o direito de fumar" mais cedo) a ser o câncer mais comum, superando o de mama e o de útero.

Gráfico mostrando a incidência do fumo entre as mães dos 123 alunos do Colégio Andrews. Comparativamente, há uma proporção menor de mães fumantes, em relação aos pais. 30% das mães são fumantes.

Esta nova amostragem, das mães da Escola Municipal Silveira Sampaio, revela uma relação praticamente igual à incidência observadas com as mães do Colégio Andrews. 28,4% das mães dos 169 alunos da Silveira Sampaio são fumantes.

 

Este gráfico, representando as mães fumantes dos alunos do Colégio Andrews, revela um dado interessante : 48,7% delas são as únicas fumantes da casa. Estão em número estatísticamente idêntico ao das que fumam junto com os maridos (51,3%). Isto comprova a autonomia feminina em relação ao vício, "conquistada" ao longo das últimas décadas.

Esta amostragem revela uma proporção semelhante de mães sendo as únicas fumantes da casa, comparadas com as mães do Colégio Andrews. 44% das mães fumantes da Escola Municipal Silveira Sampaio são as únicas a fumar em casa.

As comparações entre os dados referentes aos pais e mães das duas escolas mostram uma menor incidência do fumo entre os pais da Escola Municipal, apesar de, como mencionamos, ainda se tratar de uma incidência alta, de 37% . No que tange às mães, praticamente, não observamos diferenças sensíveis, principalmente, no aspecto "única fumante da casa". Esta talvez seja a mudança mais marcante deste final de século no assunto cigarro. Os estudos atuais confirmam a tendência de uma maior presença das mulheres no vício do tabagismo, chegando a se esperar que, em breve tempo, existirão mais mulheres do que homens entrando anualmente no ciclo dos novos fumantes. Desgraçadamente, nesta disputa de quem entra mais no vício, saem perdendo tanto as mulheres quanto os homens, absolutamente não há vencedores.

Na contra-mão da história, mulheres cariocas se reunem para fumar charutos, no final da década de 90, repetindo atitudes "masculinas" do final do século dezenove.

Luciana Scotti, hoje escritora, passou por maus bocados, por ignorar os riscos. Ignorar, verbo que pode ser traduzido por desconhecer, porém, para muitos adolescentes, também como " comigo não vai acontecer nada "...

Para tornar clara a idéia de que nesta competição entre homens e mulheres não há vencedores, colocamos abaixo dois gráficos recebidos da Sociedade Americana contra o Câncer (American Cancer Society), aonde pode ser identificado o vencedor desta disputa: o câncer de pulmão. Entre os cânceres que mais matam os americanos e as americanas do norte, o câncer de pulmão assumiu a liderança, em relação às mortes que provoca, entre os homens durante a década de 50, enquanto que apenas nos anos 80 passou a liderar entre as mulheres, pelo simples fato das mulheres terem aderido ao fumo algumas décadas mais tarde.

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Os homens começaram a fumar cigarros entre 1910 e 1920. Trinta anos depois, o câncer de pulmão assume a liderança sobre todos os outros tipos de câncer quando o assunto é mortalidade.

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As mulheres iniciaram-se mais tarde no vício do cigarro, em torno do início da década de cinquenta.Trinta anos depois,  o câncer de pulmão já era o que mais matava as mulheres americanas, superando o de mama. Note-se que a curva do câncer de pulmão em mulheres está subindo fortemente, devendo crescer mais no início do próximo século.

Esse envolvimento das mulheres com o fumo é algo extremamente contraditório, uma vez que é sabido o receio que elas têm de animaisinhos como baratas, aranhas e ratinhos. Na lixeira do meu prédio dá para saber quando foi uma vizinha que acabou de deixar o lixo, pois, ele sempre está do lado de fora. Uma vez, inclusive, testemunhei como se passa a aventura: a incauta abriu a porta do quarto aonde está a lixeira, adentrou-o correndo, jogou apressadamente todos os sacos de lixo no chão e, para terminar, saiu correndo rumo ao seu apartamento. Abrir a portinha da lixeira, para cololocar no local adequado, nem pensar. Vai que sai um bicho...

Entretanto, medo do tabaco, parece que ainda têm muito pouco, apesar de, historicamente, terem muito mais zelo pela saúde que os homens, de uma forma geral...

A mulher está, ao fumar, repetindo um velho vacilo masculino e ignorando que essa idéia de ser o sexo frágil, às vezes, tem sua dose verdade. A mulher moderna, que participa dessa sociedade competitiva, vem sofrendo, como os homens, de doenças ligadas ao estresse, à alimentação à base refeições ligeiras (leia-se, refeições pesadas e rápidas) e à poluição e violência urbana crescente. O cigarro, um mal evitável, deveria ser banido e não buscado, como vemos, pelas mulheres jovens.

Grand Prize Winner, 2001

Ali ShahAli, Iran

Leia esta matéria sobre o fumo e a mulher...

Jornal do Brasil, Revista de Domingo, 23, junho, 2002, em matéria de Cláudia Miranda

Leia matéria para Bolsa de mulher

Revista VIP - abril, 2001

Sem educação, a mulher ficará escrava de seus 20 anos e de seu bumbum duro. Mary Del Piore, Historiadora.

A mesma violência do cigarro, uma agressão por milhares de substâncias tóxicas, vemos em outras áreas. Enquanto explode a violência doméstica sobre as mulheres, o símbolo sexual da vez, dizia: BATE ! Imagine, que um alucinado possa estar sentido-se liberado para bater em uma mulher, estimulado por apelos desse tipo.

BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES !!!

Quem faz esse pedido aqui, não é um homem solidário às mulheres, ou o especialista que quer influenciar as meninas a não começarem a fumar. Quem faz esse pedido é apenas alguém, um ser humano qualquer.

No entanto, agora sim como especialista em doenças provocadas pelo fumo, coloco abaixo o caso de uma cliente querida, de apenas 42 anos de idade, interna do Hospital Raphael de Paula Souza, durante o mês de abril/2001, que autorizou-me a disponibilizar a sua foto e sua estória. Ela foi admitida com um importante inchaço no rosto e pescoço, diagnosticado como um sinal colateral de tumor de pulmão - Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS). A paciente é grande fumante. Em sua história familiar, pasmem amigos, a mãe da cliente, também fumante, morrera, em 1994, por câncer de pulmão. Com todo o seu sofrimento e apreensão ( "estou com muito medo, doutor, do que vai acontecer comigo." ), a paciente foi generosa o suficiente para ainda servir de alerta aos jovens e aos fumantes para abandonarem o tabaco.

"Diga a eles, doutor, para não entrarem nessa", Juraci de Oliveira, 42 anos.

Campanha do Ministério da Saúde, 2003

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Enquanto lutamos, feito doidos, para interromper o caos provocado pelo tabaco, mulheres criam associações de fumantes e divulgam o movimento para angariar novos adeptos...

Dá para entender ???

Até dá, pois, vivemos num planeta doidaço, em que fazem com as mulheres coisas do arco da velha... No Brasil, por exemplo, a cada 10 minutos, uma mulher sofre violência doméstica!

Entretanto, tem muita gente positiva ajudando as mulheres a perceberem os riscos do fumo, como a Rede Internacional de Mulheres Contra o Tabaco( International Network of Women Against Tobacco - INWAT ), fundada em 1990. Ou, a turma do Centro Nacional de Informação sobre a Saúde das Mulheres ( The National Women's Health Information Center - NWIHC ). O problema é realmente sério e tem bastante gente preocupada e tentando contribuir.


Contribuição adicional:


Campanha da Não Violência à Mulher

(Bem Querer mulher)


Conheçam a Associação das Mulheres Revolucionárias do Afeganistão (RAWA).


Conheçam a Campanha do Laço Branco (The White Ribbon Campaing): "homens pelo fim da violência contra a mulher".


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